23.2.09

Hora de crescer!


Pois bem, chegou a minha vez.
É preciso transformar o hobby em coisa séria. Com hora marcada, conteúdo certo e determinação, afinal, isso há de virar ganha-pão. E inshallah, muito mais que pão!
Assim, o Em Modo de Espera do ostracismo irá para o baú por tempo indeterminado.
É hora e a vez para mais do que os comigos de mim mesma.Lá o compromisso é menos eu e mais tudo.
Menos diário e mais profissão.
Menos anedotas e mais observação.
Convido a todos os seres que cá aparecem vez ou outra a conhecer a primeira fase desse meu projeto com cheirinho de empreendedorismo. E com pelo menos três posts por semana!
De literatura latina a mais nova milionária contratação do futebol europeu.
Passando pelos conflitos do Oriente Médio, com especial atenção às traduções das colunas do jornalista Fiske e do historiador Ali, mais sobre o mundo, sobre o Brasil, sobre a América Latina.
Mais sobre gente.
Tem espaço para o livre pensar e quiçá alguma criação despretensiosa.
Basicamente um balaio, uma miscelânea de idéias e pensamentos soltos e em constante exercício. Venha e fique a vontade!

Ah, os pensamentos continuam entregues avulsos!

10.1.09

Por que o bombardeio a Ashkelon é a mais trágica ironia

Terça, 30 de dezembro de 2008

Como é fácil repreender a história dos palestinos e apagar a narrativa de sua tragédia, e eximir uma grotesca ironia sobre Gaza, a qual – e em qualquer outro conflito – jornalistas escreveriam em suas primeiras reportagens: que os donos originais e legais da terra israelense, que o Hamas bombardeia com mísseis, pertence na verdade aos que vivem em Gaza.

É por isso que Gaza existe: porque os palestinos que viviam em Ashkelon e nas redondezas – Askalaan em árabe – foram desapropriados de suas terras em 1948 quando Israel foi criado, e foram posteriormente encerrados nas praias de Gaza. Eles – suas crianças, netos e bisnetos – estão entre o milhão e meio de palestinos refugiados que se espremem na cova que é Gaza. Oitenta por cento dessas famílias viviam onde hoje é Israel. Isto, historicamente, é um fato: a maioria do povo de Gaza não veio de lá.

Mas, acompanhando o show de notícias, você pode achar que a história começou ontem. Quando um bando de barbudos anti-semitas e lunáticos religiosos pipocou repentinamente das favelas de Gaza – um depósito de lixo humano de um povo destituído de suas origens – e começou a atirar mísseis na democrática Israel de paz e amor, só para conhecer o poderio bélico da força aérea israelense. O fato é que as cinco irmãs assassinadas em Jabalya foram mortas por bombas vindas do mesmo lugar de onde seus avós viviam. Mas essa parte não é contada.

Tanto Yitzhak Rabin quanto Shimon Peres afirmaram, nos idos anos 90, que desejavam que Gaza desaparecesse, fosse embora mar a dentro, e vocês podem ver o porquê. A existência de Gaza é uma lembrança permanente de centenas de milhares de palestinos que perderam seus lares, e que tiveram de fugir da limpeza étnica iniciada por Israel, há 60 anos, quando a maré de refugiados vindos dos campos de batalha da Segunda Guerra, deixou a Europa e obrigou com que os árabes fossem enxotados de suas terras, tudo sem que o mundo se preocupasse.

Bem, o mundo devia se preocupar agora. Espremidos na maior concentração populacional do planeta, esse povo desapropriado tem vivido na rejeição e selvageria. E nos últimos seis meses sem energia ou comida, sanções essas impostas por nós, o Ocidente. Gaza sempre foi um lugar de revoltas. Sobreviveu aos dois anos de sangrenta “pacificação” imposta por Ariel Sharon em 1971, e não será agora que Gaza se ajoelhará.

Nas alas palestinas, a sua mais poderosa voz política – estou falando do atrasado Edward Said, não do corrupto Yassir Arafat (e como Israel deve sentir falta dele) – está silenciosa. Dada a complicada situação tudo é inexplicável para seus falastrões. “É o mais terrível lugar que já estive”, disse Said em Gaza. “É horrivelmente triste porque o desespero e a miséria são as únicas coisas conhecidas pelas pessoas. Eu não estava preparado para campos piores do que os que vi na África do Sul.”

Claro, eles foram abandonados pela ministra do Exterior de Israel, Tzipi Livni, quando admitiu que “algumas vezes os civis também pagam o preço”, um argumento que ela não faria, obviamente, se as estatísticas de fatalidades fossem do lado inverso. Certamente, foi instrutivo ouvir ontem, um membro do American Enterprise Institute (centro de estudos conservador financiado por uma das maiores petrolíferas do mundo*) – que lealmente reproduziu os argumentos israelenses – defendendo a ultrajante taxa de morte palestina, ao dizer que era “apenas um mero detalhe dentro dos números do jogo”. Porém se mais de 300 israelenses tivessem sido assassinados contra dois palestinos mortos, tenho certeza que os “números do jogo” e a desproporcional violência seria de total relevância. O fato é simples: as mortes palestinas importam muito menos do que as mortes israelenses. Verdade, nós sabemos que 180 das mortes eram de membros do Hamas. Mas e o restante? Se as Nações Unidas considera o número falso de 57 civis mortos como exata, ainda assim tal taxa seria uma desgraça.

Ver que tanto EUA quanto Grã-Bretanha negam-se a condenar os violentos ataques de Israel enquanto condenam abertamente o Hamas, não é surpresa. A polícia estadunidense no Oriente Médio e a polícia israelense são inseparáveis e Gordon Brown é o mesmo seguidor do governo Bush, assim como seu predecessor.

Como de costume, os senhores árabes – amplamente armados e pagos pelo Ocidente – estão absurdamente calados, do topo da crise na qual irão (se garantirem seus lugares), escolher um “comitê de ação” para prover um relatório quer nunca será terminado. Essa é a forma do mundo árabe e suas corruptas leis. Essa é a forma como o Hamas que irá aguardar a confusão desses poderosos árabes, enquanto cinicamente aguarda que Israel se pronuncie. Como eles querem. Na verdade, em poucos meses, ouviremos que Israel e Hamas tiveram “conversas secretas” – assim como nós fizemos com Israel e mesmo com o corrupto PLO (Organização pela Libertação da Palestina – OLP). Mas até lá, os mortos estarão sepultados e estaremos encarando a próxima crise, desde a última crise.

Robert Fisk: Why bombing Ashkelon is the most tragic irony - Tuesday, 30 December 2008

Líderes mentem, civis morrem e as lições de história são ignoradas.

Segunda, 29 de dezembro de 2008.

Nós estamos tão acostumados com a carnificina no Oriente Médio que não nos importamos mais – desde que não ofendamos os israelenses. Não está claro quantos mortos em Gaza são civis, mas a responsabilidade do governo de Bush, e não mencionando a pusilânime reação de Gordon Brown, reafirma para os árabes o que eles sabem há décadas: não importa o esforço deles contra seus antagonistas, o Ocidente sempre tomará o lado israelense. E como sempre, a batalha sangrenta é culpa dos árabes – quem, como todos sabem, só entendem a linguagem da força.

Desde 1948, temos ouvido esse absurdo dos israelenses – como os árabes nacionalistas e então os muçulmanos vem mascateado suas próprias mentiras, que a “máquina mortal” do Sionismo conseguirá controlar e que todos em Jerusalém serão “libertados”. E sempre o senhor Bush pai ou senhor Clinton, ou senhor Bush filho, ou senhor Blair ou senhor Brown têm dito que os dois lados precisam ser “controlados” – como se os palestinos e israelenses tivessem ambos F-18s e tanques Merkava, além de artilharia de ponta. As bombas caseiras do Hamas mataram apenas 20 israelenses em oito anos, mas um longo dia de ofensiva aérea israelense mata cerca de 300 palestinos e é apenas parte do percurso.

O esguicho de sangue é parte da rotina. Sim, o Hamas provoca a raiva israelense, assim como Israel provoca a raiva do Hamas, a qual é provocada por Israel, que é provocado pelo Hamas, que é... Veem o que quero dizer? O Hamas atira mísseis em Israel, Israel bombardeia Hamas, o Hamas atira mais mísseis e Israel bombardeia outra vez e... Pegou? E nós exigimos segurança para Israel – certamente – mas negligenciamos esse massacre massivo e totalmente desproporcional por parte de Israel. Foi o que Madeleine Albright disse uma vez, que Israel “estava sitiada” – como se os tanques palestinos estivessem nas ruas de Tel Aviv.

Mas ontem, a taxa de morte parou em 296 palestinos mortos para um israelense. De volta a 2006, foram 10 libaneses mortos para um israelense morto. Essa semana teve a taxa mais inflacionada para um único dia, seria desde a guerra do Oriente Médio de 1973? Ou para a guerra dos Seis Dias de 1967? Ou para a guerra de Suez em 1956? Ou para a guerra da Independência/Nakba em 1948? É obsceno, um jogo repulsivo – na qual Ehud Barak, o ministro da Defesa israelense, inconscientemente admitiu quando disse para a TV Fox, nessa semana. “Nossa intenção é mudar totalmente as regras do jogo”, disse.

Exatamente. Somente as “regras” do jogo não mudam. Esse é mais um deslize nas taxas árabe-israelense, um percentual escorregadio mais apavorante do que as quedas da bolsa de Wall Street, embora sem grande interesse nos EUA, o qual – vamos lembrar – fabricou os F-18s e os mísseis Hellfire, tão defendidos no governo Bush e utilizados frugalmente por Israel.

A maioria das mortes, nesta semana, aparecem como de membros do Hamas, mas será essa a suposta solução? O Hamas diria: “puxa, essa ofensiva é impressionante – nós reconhecemos o Estado de Israel, abrimos mão da Autoridade Palestina, deitamos nossas armas e oramos, seremos feitos prisioneiros e trancafiados indefinidamente e apoiaremos o novo “processo de paz” americano no Oriente Médio!” É isso o que os israelenses, americanos e Gordon Brown pensam que o Hamas fará?

Sim, lembremos o cinismo do Hamas, o cinismo de todo grupo armado muçulmano. Eles necessitam de mártires e é tão crucial que Israel os crie. A lição que Israel pensa que estar ensinado – entreguem-se ou destruiremos vocês –não é a lição que o Hamas está aprendendo. O Hamas precisa da violência para acentuar a opressão dos palestinos – e confia que Israel proverá. Alguns mísseis em Israel e Israel será forçado.

Nem um protesto de Tony Blair, encarregado da paz no Oriente Médio, e quem jamais esteve em Gaza nesta encarnação. Nem uma palavra sangrenta.

Ouvimos como de costume a versão israelense. O general Yaakov Amidror, o primeiro homem na “divisão de investigação e avaliação” do exército israelense anunciou que “nenhum país do mundo permitiria que seus cidadãos apontassem seus mísseis para os alvos sem que provenha antes vigorosamente sua segurança”. Em parte. Mas quando o IRA atirava morteiros na fronteira com a Irlanda do Norte, quando suas guerrilhas cruzavam a República para atacar as delegacias e os protestantes, a Grã-Bretanha despachou o RAF na República da Irlanda? O RAF bombardeou igrejas e reservatórios e delegacias e liquidou 300 civis para ensinar uma lição à Irlanda? Não, eles não fizeram. Porque o mundo veria como um comportamento criminoso. Nós não queremos descer ao nível do IRA.

Sim, Israel precisa de segurança. Mas essas batalhas sangrentas não trarão isso. Não é desde 1948 que Israel tem feito incursões aéreas para proteger-se. Israel bombardeou o Líbano milhares de vezes desde 1975 e nenhum eliminou o “terrorismo”. Então qual é a reação da noite passada? Os israelenses intimidam com ataques terrestres. O Hamas aguarda pela próxima batalha. Nossos políticos ocidentais se humilham em seus poços sem fundo. E em algum lugar no oriente – em uma caverna? esconderijo? encosta? – um bem conhecido homem de turbante sorrir.

3.1.09

Um bom começo



Os oráculos advertem que deixar o passado para retomar o futuro é a única forma. E lembrei do que uma amiga que me disse: determine. É importante que você e o mundo saibam o que você quer!, disse.

E eu comecei fazendo isso, mas faltava mais. Curioso, mas faltava na verdade, menos. Menos peso, menos densidade. Mais leveza. A sutileza dos sonhos. Eu vivo dissipando, falando, falando, falando. Ou como diz minha avó, defensora de um bom segredo, bodejando.

Numa entrevista lida, Amarante diz que teve um insight após assistir Waking Life. Eu vi o mesmo filme, ou tentei, porque achei demasiado longo e entendiante. Mas eu tive um insight lendo Amarante. O silêncio e os sonhos.

Nesse mundo de tanta energia perdida em promessas que não se cumprem, escolha o silêncio. O silêncio e alguma fé para tranquilizar que o melhor sempre vem. E seja o que for esse melhor. No momento, o melhor para o Amarante é ter somente um violão, a companhia da esposa, alguns amigos e estar viajando pelo underground roquenrol americano.

Resolvi pensar e sonhar nos meus planos também. Tudo tão incerto, mas docemente incerto como são os sonhos. Aquela coisa meio etérea, meio embaçada, mas que o coração se anima de saber que ficará tudo bem. Já é 2009, embora nunca me pareça ser, nos primeiros dias.

Mas sei que é sim um bom começo.

Algumas referências:

- Ágætis Byrjun

- Pensamentos do Amarante

1.1.09

Das resoluções para 2009, e essa é apenas uma prévia, desejo resolver a minha situação no Iesb e poder pegar meu canudo numa boa, livre e leve. Desejo que a mudança para o Rio seja tranquila. Desejo arrumar um bom emprego como jornalista (ou assessora ou fotógrafa, enfim, comunicóloga). E mais do que tudo, desejo ter dindin para levar a família daqui para passar um reveillon decente, porque nós merecemos.
E nunca mais quero passar a virada atualizando blog com minhas deprimências.
Amém!