19.8.08

E as Olimpíadas

Fonte: CBDA


Desde Atlanta que eu não acompanhava com tanto afinco os Jogos Olímpicos.
Irônico mas o Brasil não tem rendido como o coração brasileiro deseja.
E a sensação que tenho é que nem mesmo a qualquer momento o bravo herói gigante e gentil se levantará e pisará no lugar mais alto do pódio.
Parece que o mundo inteiro ficou melhor em alguma coisa e nós não.
Vendo uma partida de handebol, em que o Brasil começou na frente do placar, mas no final, já sem fôlego, perdemos por uns dez gols de diferença. O comentarista, depois da sexta derrota dos nossos times de handebol vaticinou: “eis a diferença entre ser europeu e estar na Europa”. Numa referência ao nível das equipes brasileiras cujos jogadores residem e jogam no velho continente.
Pois é. Dizer o que?
Antes da Olimpíadas, lembro de um documentário que vi na ESPN sobre esportistas brasileiros já medalhados em alguma edição anterior, mas que não tiveram as vidas alteradas depois da premiação.
Um boxeador baiano que entre um bico e outro treina em um barracão e se diz orgulhoso por poder representar o país. Além da academia simples que treina diariamente mostraram a casa dele, onde moram ele e a esposa. Um outro casebre comprado no subúrbio de Salvador com o suor de muitas lutas. A cama do casal fica ao lado das inúmeras medalhas que ele tem penduradas na parede. Ele não foi para Pequim, não conseguiu se classificar.
O outro relato igualmente impressionante foi de um lutador de taekwondo paranaense. Que foi medalhista mas cuja vida pouco mudou. Hoje, ele mora em uma república de estudantes e é bolsista de uma faculdade, na qual treina e estuda. A medalha está guardada na gaveta de cuecas, em um armário que ele divide com mais alguns moradores.
É uma pena eu não lembrar o nome (e tampouco querer buscar no google) mas ele dizia que faria um documentário e mostraria a situação de tantos e tantos atletas como ele. Que fazem das tripas coração e buscam algo melhor, mas que infelizmente vêem os sonhos deixados de lado depois que o furor e a emoção passam. Ele questionava o Pan, a Copa e as Olimpíadas no Brasil. “Nada fica para o povo, para que a criança possa se desenvolver e virar um esportista e conquistar o futuro”.
É uma lástima. Por que é verdade.
Eu que não agüento mais ouvir falar de Phelps (embora reconheça que o cara é um fenômeno) me sinto envergonhada, sou mais o nosso judoca Eduardo. Que graças ao olhar de outro lutador (Carlos Honorato), conseguiu finalmente receber a faixa preta depois de dez anos sem o dinheiro necessário para pagar o teste. Eduardo recebeu a faixa preta para entrar na seleção, tirar o passaporte e vencer umas cinco ou seis lutas seguidas por Ipon redondo. Belas, belas lutas, e aqui quem fala é a judoca remanescente que ainda habita este corpo. Eduardo perdeu a luta do bronze por escolha dos juízes. Mas venceu muito mais do que podemos pensar.
Ao ver que até o Azerbaijão está na nossa frente temi se nos sobram ainda muitas coisas. Mas a esperança ainda é verde, como a nossa bandeira, (como o nosso Palmeiras) e como a crença de que as coisas podem mudar, seja em Beijing seja em outro lugar, mas principalmente neste Brasil.
Inshallah!
P.S.: Ainda bem que mesmo com um chocolate argentino que confesso, afagar meu escárnio contra Dungas, Ronaldos, jogadores na Europa e principalmente seleção como auto-promoção, temos Cielos, Martas e demais brasileiros verde-amarelos.
P.S.2: Com exceção dos PSs, todo o texto foi escrito antes da primeira medalha de ouro!

Um comentário:

Éverton Vidal Azevedo disse...

Nossa você está sumida ein!
Gostei do "tenho 25 anos de sonho e de sangue e de América do Sul".

Beijao viu.
Inté!