1.11.06

Ensaio sobre uma rave. Experiências de uma roqueira na Jeroky.


“Vamos numa rave?”
A pergunta feita a uma baixista de rock alternativo, que jamais pisara em um ambiente de música eletrônica soou complexa.
“Uai... Quem sabe? Vamos ver...” Tentei esquivar, na verdade tantos compromissos já seriam justificativas justas para não sair de Palmas, encarar 15 horas num ônibus-forno pois o ar era constantemente desligado, que quebrou duas vezes (Isso para ir, porque na volta a diferença foi que não quebrou, mas também o ar não ligou nenhum minuto) – parecia uma aventura e tanto.
Fui.

Goiânia às 14hs do sábado, dia 28 de outubro. A rave era num clube na saída para Aparecida. Eu que não sou de lá, deixei que a motorista, a irmã do amigo que havia me convidado se resolvesse.
Às 16hs lá estamos nós adentrando. Na porta, dezenas de cambistas tentavam empurrar os últimos ingressos, enquanto outros tantos vendiam vagas em estacionamentos. Escolhemos o estacionamento oficial, carro etiquetado, etiqueta também na carteira, muitos policiais com cães no cercado que seria o estacionamento, mais uns poucos carros e eu pensando, “Bom, vamos aproveitar do começo ao fim, mesmo!”.
Mais a frente, mais seguranças e revistas. Não pode entrar nem comida, nem bebida. Acho que maconha pode, porque diferente do que eu esperava encontrar: muito ácido, durante a festa o que sentíamos mesmo, era o cheiro da erva no ar. E eu querendo embrulhar o estômago. Aff. Aliás tem esse mito de que em rave você vai ver comprimidos de ácido brotando do chão e coisa parecida, mas não vi nenhum! Chapados? Drogados? Sei lá, tinha tanta gente, e isso na boa, a gente ver as pencas nos rocks da vida.
Bem do lado da entrada umas lojinhas vendendo artigos típicos de tranceiros, aquelas batas psicodélicas, com referências hindus, colares e outros mimos. Do outro lado um palco com cúpula e generosas pa´s, típicos de rock(olha o espírito roqueiro tentando se ambientar). De ambos os lados instalações artísticas com tecidos que brilham a noite, lembravam totens. E na frente do palco várias tendas enormes, dando abrigo as poucas pessoas que já se requebravam. Ao fundo as barracas de bebidas. Nós, que nada tínhamos de bobos, já estocamos várias fichas de água, cerveja e suco. Preços também, iguais as festas de rock, porém o cachorro quente e minipizza (mini mesmo) a cinco reais, eu não pude concordar. Com 17 horas de tutis-tutis pela frente, o importante é manter-se hidratado!
O começo é acanhado, como todo começo costuma ser. Fico em pé, olho para um lado, para o outro, abstraio. Daqui a pouco me pego já batendo o pé e cadenciando os ombros. Escurece rápido porque o tempo fecha, eu penso: “Oba! Tem chuva!”. A essa hora já mudou de dj, e acredite, dá pra sentir as sutis diferenças de um pro outro. Também já está mais cheio, eu e meus cicerones, Wesley e sua irmã Ellen, já me fizeram sentir-se totalmente a vontade para estar mexendo o esqueleto tanto quanto qualquer um ali. Tiramos os tênis vamos pra frente das pa´s. e sentindo a caixa torácica vibrar junto, esquecemos de tudo. Segundo o Wesley esse é o começo do transe.
Começa a chover e todos correm pra debaixo das tendas, eu não, eu permaneço. E, de praxe, lavo até a alma. Esse foi o ápice da festa pra mim. Olho pro céu escuro, esqueço de todos os problemas e fico ali, na minha maneira, agradecendo a Deus pela vida. Vai entender como isso é possível, mas é, simples. O vento frio, e eu nem ai pra roupa que vai demorar a secar e a noite que só está começando. Esqueço da hipótese de resfriado, que aliás, também esquece de mim, ufa!
As 21hs eu peço arrêgo, preciso sentar e desligar um pouco. A Ellen que a essa altura já estava com náuseas do cheiro de maconha vem também. Sentamos na praça de alimentação, com as cadeiras molhadas da chuva. Do lado tinha outra pista, que seria o chill-out, ou pista de descanso. Lá também tem dj, só que achei a musica muito alta pra relaxar. Também faltou um pufe pra eu me escorar um tiquinho!
Umas duas horas depois chegou o Wesley e ai fomos pra uma lanchonete do clube, tudo imundo, mas o cansaço era tanto que deitamos ali mesmo. Aliás, imundos também eram nossos pés, só a lama e o barro.
Bodamos umas duas horas. Por volta de uma hora da madruga lá estamos nós outra vez, o que era grama virou lama e todo mundo da cintura pra baixo estava meio parecido. Mesmo os dois personagens nativos de rave que eu cataloguei, observe: a maioria das mulheres vão com minissaias, miniblusas e botas de camurça marrom, ficam parecidíssimas com a Tomb Ryder, não sei se é intenção mas estava cheia delas por lá. E os homens que geralmente têm longos dreads, e mesmo com o frio basta-lhes uma bermuda de tactel, já que como o Johnny Bravo querem mesmo é exibir o peitoral. Também têm muitas pessoas normais. Vi pouquíssimos ripongas, e era o que eu mais esperava encontrar. Tem também a pivetada emo, que não deve ter mais de 17 anos, e se cansa rapidinho, lá pelas dez já estão amontoados nos cantos.
Nessa hora estava tocando a maior atração, um dj de Israel, lá que além de judeus e guerras têm os melhores djs de trance da atualidade. O nome do cara é Astrix, e foi o melhor som da noite. Não tinha como ficar parado. E não fiquei mesmo. Nessa hora, chegar aos banheiros – que aliás tinha dezenas, com muitos guardas na frente, era uma odisséia. O Wesley especulou umas 8 a 10 mil pessoas. Eu sem noção de quantidade, só pude dar o meu parecer de que estava totalmente lotado.
Lá pelas 4 e meia da manhã, minhas pernas doíam e davam cãibras. Só agora minha bermuda começara a secar. Um frio daqueles, e eu concluindo porque o homem moderno não anda mais descalço. Fomos procurar abrigo. A Ellen que havia se desligado da rave desde quando levantamos pra ver o Astrix, curtia sua dor de cabeça lá na área que ficou o atendimento médico. Uns colchões no chão, uns cobertores de papel alumínio e uma galera deitada, passando mal. Interessante que mal sentamos e veio uma senhora de jaleco, perguntar se passávamos mal. “Não senhora, só cansaço mesmo!”. Nesse momento fiquei com inveja, nunca vi nenhum rock com amparo médico. E olha que o que fica de roqueiro jogado nos cantos, passando mal, nem em rave é igual.
Vinte minutos de descanso, já que não tivemos coragem de simular coma alcoólico pra ganhar um colchão, voltamos pra rave. Muita gente dançando, isso é muito legal, tem uma tonelada de pessoas e ninguém vem lhe aborrecer, aliás, percebi que rave é um lance muito individual, já que vc dança sozinho, e do jeito que vc quiser. De olhos fechados, correndo, parado, vale tudo. Amanhecendo o dia, todos munidos dos seus óculos de sol, e embora a festa fosse acabar dali a duas ou três horas, o movimento era como se a festa tivesse acabado de começar.
E eu? Adorei. É tudo bem diferente, estilos, sons, tudo. Mas a diversão é garantida, se você deixar-se levar pelo tuts-tuts. Estou pensando até em voltar em dezembro pra ver outra, dessa vez, tem banda no palco: a banda dos djs com guitarra, vocal, batera e baixo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá!
Muito massa o ensaio, eu também tive sensações semelhantes na primeira vez em que fui numa rave. Só ocorreu um equívoco, era na saída para Trindade ;).
Fico feliz em saber que realmente teve "novas experiências e sensações".
Espero que em breve possamos ir a outra...
Bjos
Wesley

Anônimo disse...

PS.: tou levando bastante mp3 de psy trance pra vc, hehehe
Wesley