5.11.06

Da série: Crônicas domésticas

Lembro quando ela chegou era uma tarde chuvosa!
Pequenininha e com frio, veio embrulhada num pano de chão.
E fedia, hum, fedia, típico de cachorro novo.
Nessa época eu fazia a 4ª. série. Devia ter uns 10 ou 11 anos.
Quis que ela dormisse no meu quarto, mas a mãe não deixou.
“Vai detonar o seu quarto se for dormir lá!”
Na verdade, acabou dormindo do lado de fora, e chorou e arranhou tanto a porta da cozinha que não consegui dormir. Pensava que ela poderia estar com frio.
Irônico é que logo cedo, no primeiro dia dela lá em casa, eu levantei cedíssimo e fui correndo vê-la. Peguei-a e pus no tanque de lavar roupa, dei-lhe um banho daqueles.
Devia ser umas 5 horas da manhã. E como se já não fosse demorar bastante o sol aparecer pra coitada se esquentar, era um dia chuvoso. Por mais que a embrulhasse ela permanecia tremendo. Hum! Lembro disso!
Mas ela sobreviveu.
Sobreviveu também a fase que o meu irmão, novinho também, com uns 5 ou 6 anos vinha todo faceiro brincar com ela. Ela sequer levantava pra vê-lo. Ai, depois de um tempo isso começou a irritá-lo de forma que ele urinava nela pra se vingar.
Sei, é triste, mas a prática durou um tempo, durou até vermos e brigar com ele.
Sei que ele também prosseguiu por um tempo com a prática. Ai foi a Mila mesmo que teve de tomar uma atitude contundente.
Pra sorte do meu irmão ela nunca levou a cabo as investidas.
Foi por esse época que tivemos de prendê-la numa corrente.
Porque se ela via o mano, avançava, ladrava e provavelmente descontaria nele toda a humilhação.
Outro dia achei uma foto em que ele brinca com ela.
Não consigo lembrar de quando foi tirada.
Faz 13 anos que a Mila veio pra família.
Desde a época de atritos com meu irmão ela continua presa na corrente.
Hoje em dia ela ta bem grisalha, lembro que ela era pretinha! E serelepe, quando conseguia se soltar corria o máximo que podia, e saia de casa. Inúmeras vezes nos obrigou a correr atrás dela, inúmeras! Ela galopava! E a gente suando atrás. Quando conseguíamos pegá-la ela nos mordia, grilada, grilada! Era engraçado!
Teve o dia que ela se soltou e cismou com um fila, cuja a cabeça já seria quase o tamanho dela. E claro, sobrou pra mim!
Puros causos de família!
Fiquei pensando se do jeito que eu não lembro de quando foi tirada a foto dela com o mano, ela também não deve lembrar de como era estar solta.
Ou talvez se lembre, e anseie por isso. Ou talvez esteja cansada.
Liberdade é ou não é um desejo eterno?
E era só pra falar com saudades dela, que já ta com os olhos meio azulados.

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