31.12.08

Desses dias


Fazia dias que nenhum recado chegava na página, por mais que atualizasse várias vezes ao dia. Os telefonemas se caracterizavam em um ao dia. A noite, na hora que dava. Às vezes duravam horas, outras alguns minutos. Ela sem muito assunto, ele com amigos ansiosos pela atenção dele outra vez.

Mas até no msn andava assim, corriqueiro demais. Se ela estava online era uma conversa simplificada: "ah aconteceu isso e isso", ela dizia. "bacana", ele respondia. "ah e tem mais isso", "legal". Até que vinha um "pois é, tenho que ir, fulano tá me chamando, beijos, te amo!" E antes que ela pudesse dizer o mesmo, ele já estava offline.

Ela tentou cobrar, mas ouviu um pedido para não fazê-lo. E pensou cá com seus botões, em vez de tanto falar, faria. E passou a enviar cartões, deixar recados, e mandaria mensagens para o celular dele, se ele tivesse lhe dito que já tinha um.

Ouviu conselhos de ter paciência. Eram as primeiras semanas desde que ele voltara para o próprio mundo. Ele estava naturalmente empolgado com tudo por lá. Amigos, amigas, família. Devia ser natural. Ela sempre ouvia que era a coisa mais importante na vida dele. Que ele não tinha outro assunto a não ser a vinda dela. Mas eram as primeiras semanas sem ele para ela, também.

E o coração se sentia assim, meio rejeitado. Como se a idéia da existência dela fosse mais importante que a própria existência. Como se a ida dela fosse suficiente, e não restasse relevância para as conversas diárias. "Naquela época não tínhamos um futuro decidido, hoje temos e por isso estou tranquilo", ele disse. E ela temeu que tamanha tranquilidade escondesse outras coisas. E abafasse no coração andarilho dela. Ele impetuoso demais. Ela carente.

Sentiu falta dos dias na capital federal, em que mesmo que ele a visse horas depois, não deixava de mandar mensagens ou ligar ou enviar cartões ou deixar recados.

Ela sempre forte, sempre só, sempre andarilha, sentia que seus dias dependiam de um mínimo de atenção dele. Atenção que não vinha ou se vinha tinha tempo contado para estar. Era o tempo dele. Ela entendia.

E na virada de ano pediu aos céus que a mantivessem forte e firme nessa paciência e espera e acima de tudo nesse sentimento. Que o ano anterior tivesse alimentado e deixado reservas para a época de estiagem, a época de hibernar. Que não deixasse o fatigado coração esquecer, como sempre fazia ao se deparar com a condição de mero figurante outra vez.
Para ler ouvindo "Santa Chuva" com Maria Rita.

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