10.1.09

Líderes mentem, civis morrem e as lições de história são ignoradas.

Segunda, 29 de dezembro de 2008.

Nós estamos tão acostumados com a carnificina no Oriente Médio que não nos importamos mais – desde que não ofendamos os israelenses. Não está claro quantos mortos em Gaza são civis, mas a responsabilidade do governo de Bush, e não mencionando a pusilânime reação de Gordon Brown, reafirma para os árabes o que eles sabem há décadas: não importa o esforço deles contra seus antagonistas, o Ocidente sempre tomará o lado israelense. E como sempre, a batalha sangrenta é culpa dos árabes – quem, como todos sabem, só entendem a linguagem da força.

Desde 1948, temos ouvido esse absurdo dos israelenses – como os árabes nacionalistas e então os muçulmanos vem mascateado suas próprias mentiras, que a “máquina mortal” do Sionismo conseguirá controlar e que todos em Jerusalém serão “libertados”. E sempre o senhor Bush pai ou senhor Clinton, ou senhor Bush filho, ou senhor Blair ou senhor Brown têm dito que os dois lados precisam ser “controlados” – como se os palestinos e israelenses tivessem ambos F-18s e tanques Merkava, além de artilharia de ponta. As bombas caseiras do Hamas mataram apenas 20 israelenses em oito anos, mas um longo dia de ofensiva aérea israelense mata cerca de 300 palestinos e é apenas parte do percurso.

O esguicho de sangue é parte da rotina. Sim, o Hamas provoca a raiva israelense, assim como Israel provoca a raiva do Hamas, a qual é provocada por Israel, que é provocado pelo Hamas, que é... Veem o que quero dizer? O Hamas atira mísseis em Israel, Israel bombardeia Hamas, o Hamas atira mais mísseis e Israel bombardeia outra vez e... Pegou? E nós exigimos segurança para Israel – certamente – mas negligenciamos esse massacre massivo e totalmente desproporcional por parte de Israel. Foi o que Madeleine Albright disse uma vez, que Israel “estava sitiada” – como se os tanques palestinos estivessem nas ruas de Tel Aviv.

Mas ontem, a taxa de morte parou em 296 palestinos mortos para um israelense. De volta a 2006, foram 10 libaneses mortos para um israelense morto. Essa semana teve a taxa mais inflacionada para um único dia, seria desde a guerra do Oriente Médio de 1973? Ou para a guerra dos Seis Dias de 1967? Ou para a guerra de Suez em 1956? Ou para a guerra da Independência/Nakba em 1948? É obsceno, um jogo repulsivo – na qual Ehud Barak, o ministro da Defesa israelense, inconscientemente admitiu quando disse para a TV Fox, nessa semana. “Nossa intenção é mudar totalmente as regras do jogo”, disse.

Exatamente. Somente as “regras” do jogo não mudam. Esse é mais um deslize nas taxas árabe-israelense, um percentual escorregadio mais apavorante do que as quedas da bolsa de Wall Street, embora sem grande interesse nos EUA, o qual – vamos lembrar – fabricou os F-18s e os mísseis Hellfire, tão defendidos no governo Bush e utilizados frugalmente por Israel.

A maioria das mortes, nesta semana, aparecem como de membros do Hamas, mas será essa a suposta solução? O Hamas diria: “puxa, essa ofensiva é impressionante – nós reconhecemos o Estado de Israel, abrimos mão da Autoridade Palestina, deitamos nossas armas e oramos, seremos feitos prisioneiros e trancafiados indefinidamente e apoiaremos o novo “processo de paz” americano no Oriente Médio!” É isso o que os israelenses, americanos e Gordon Brown pensam que o Hamas fará?

Sim, lembremos o cinismo do Hamas, o cinismo de todo grupo armado muçulmano. Eles necessitam de mártires e é tão crucial que Israel os crie. A lição que Israel pensa que estar ensinado – entreguem-se ou destruiremos vocês –não é a lição que o Hamas está aprendendo. O Hamas precisa da violência para acentuar a opressão dos palestinos – e confia que Israel proverá. Alguns mísseis em Israel e Israel será forçado.

Nem um protesto de Tony Blair, encarregado da paz no Oriente Médio, e quem jamais esteve em Gaza nesta encarnação. Nem uma palavra sangrenta.

Ouvimos como de costume a versão israelense. O general Yaakov Amidror, o primeiro homem na “divisão de investigação e avaliação” do exército israelense anunciou que “nenhum país do mundo permitiria que seus cidadãos apontassem seus mísseis para os alvos sem que provenha antes vigorosamente sua segurança”. Em parte. Mas quando o IRA atirava morteiros na fronteira com a Irlanda do Norte, quando suas guerrilhas cruzavam a República para atacar as delegacias e os protestantes, a Grã-Bretanha despachou o RAF na República da Irlanda? O RAF bombardeou igrejas e reservatórios e delegacias e liquidou 300 civis para ensinar uma lição à Irlanda? Não, eles não fizeram. Porque o mundo veria como um comportamento criminoso. Nós não queremos descer ao nível do IRA.

Sim, Israel precisa de segurança. Mas essas batalhas sangrentas não trarão isso. Não é desde 1948 que Israel tem feito incursões aéreas para proteger-se. Israel bombardeou o Líbano milhares de vezes desde 1975 e nenhum eliminou o “terrorismo”. Então qual é a reação da noite passada? Os israelenses intimidam com ataques terrestres. O Hamas aguarda pela próxima batalha. Nossos políticos ocidentais se humilham em seus poços sem fundo. E em algum lugar no oriente – em uma caverna? esconderijo? encosta? – um bem conhecido homem de turbante sorrir.

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